terça-feira, 30 de novembro de 2010

O castelo de areia

Continuando o último post, contarei como foi nossa estadia na praia durante o verão de 1989. Essas férias colocaram em xeque meus nervos de aço, como vocês vão perceber ao longo desta postagem.

Vou começar pela casa que ficamos, que era pequena e apertada. Precisei dividir um quarto - que na verdade era um cubículo que mal cabia eu sozinho - com Kitsune e as crianças. Quase tivemos que dormir em turnos, tamanha era a falta de espaço para deitarmos. Após horas nos acomodando, finalmente conseguimos descansar.
As crianças e o projeto de construir
o maior castelo de areia do mundo.

No dia seguinte, com olheiras nos olhos, fomos para a praia mais próxima. Chegando lá, vimos uma cena digna de inferno: um povaréu, lixo pra tudo quanto é canto, cães, frescobol, futvôlei e tudo o mais que uma praia de terceira merece.

_Ai que saudade da nossa lua de mel, quando fomos para Bora Bora. - comentei com Kitsune, que nem deu bola, pois já estava se bronzeando.

Olhei para os lados e as crianças haviam sumido, preocupado com elas, comecei a gritar pelos seus nomes:

_Luizinho, Zezinho, Mary Kate, Ashley, Huguinho! Onde estão?

_Estão ali fazendo um castelo de areia, seu mocorongo. - respondeu Miss Stevenson, apontando para um aglomerado de crianças que se empenhavam na construção de um castelo de areia.

_Esses bobões querem construir o maior castelo de areia do mundo, mas se depender de mim, nunca vão conseguir. - Gritava Ashley, enquanto destruía o trabalho das crianças, que choravam desesperadas.

"Gatinho" encontrado por Luizinho
e adotado por Mary Kate.
Olhei desconsolado para minha filha, depois para a cara de desaprovaçao da minha sogra e, por fim, para Kitsune, que continuava se bronzeando no sol escaldante.

O dia ia passando ao largo, e eu já pensava na viagem de volta para casa, quando senti uma mão puxando minha bermuda. Era Luizinho, nosso filho nerd que, assim como o pai, detesta a praia, o sol e o mar.

_Papai, vem ver o gatinho que eu achei.

Ele me levou até um recanto da praia, onde havia uma cesta de piquenique com um gato dentro. Chegando mais perto, percebi que aquele gato era grande demais para ser um simples bichano.

_Podemos ficar com ele, papai? - Disse Mary Kate, aparecendo magicamente e quase me matando de susto.

_Éééééééé....

_Ai, brigada papai. - Respondeu ela rapidamente, já abraçando o bicho para levá-lo embora. _ Vou chamá-lo de Mixirica, por que é amarelinho.

Mal sabíamos que aquele gato cresceria até ter o tamanho de um pônei, nem que ele ia tentar me comer umas duas vezes por mês. Mas isso fica para um futuro post, namastê.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Feriado na praia

A praia em um dia de
pouco movimento
Quem tem família grande sabe, mas quem não tem, aí vai um aviso: Viajar com parentes e familiares é uma Via Sacra, principalmente se sua sogra for a Miss Stevenson ou se sua filha for como a Ashley, a nossa ovelha negra. Foi no verão de 89 que esta história aconteceu, e tudo começou com um simples telefonema:

_Oi Kit, nós conseguimos alugar uma casa na praia para o final de semana, gostariam de ir com a gente? - Era Sakura, a irmã de Kitsune.

_Mas é claro. - respondeu ela, sem me consultar.

Quem me conhece já sabe, sou inimigo do sol, da água salgada e da superpopulação que se aglomera nas praias de todo o país. Destes locais eu só gosto das mulheres de biquini e olhe lá.

Mesmo contra a minha vontade, começamos a fazer as malas. Nós íamos fazer uma viagem de apenas três dias, mas mesmo assim Kitsune quis porque quis colocar o guarda-roupas inteiro dentro de uma única mala. Enquanto isso, eu fui mais prático e só peguei três mudas de roupas.

Ashley, Kitsune e Mary Kate:
as sereias da minha vida
_Leva mais roupa, senão depois vai ficar reclamando que não tem roupa pra sair, que todas suas camisetas estão molhadas e que a sunga está cheia de areia. - alertou-me Kitsune, mas nem dei bola.

As crianças eram um caso à parte, eles ainda não tinham conhecido o mar e estavam ansiosos pela viagem. Ashley, a ovelha negra, ficava inventado histórias para colocar medo nos irmãos:

_Um amigo meu lá da escola disse que no mar têm uma Lula gigante, e que o prato preferido dela é crianças no jantar. - Huguinho, o mais medroso dos nossos filhos, sempre corria para a barra da saia da mãe quando ouvia essas mentiras.

Com tudo certo, pegamos nossa Van e fomos até o litoral. No caminho, calor e congestionamento, uma combinação estressante, ainda mais se você tiver cinco filhos hiperativos no banco de trás.

_Pai, tá calor!

_Quero ir no banheiro!
Miss Stevenson, pode nadar que é
 seguro, qualquer coisa eu te salvo.

_O Luizinho pegou minha boneca!

Para acalmar os capetinhas, precisei tomar uma medida sócio-educativa, ou seja, liguei o dvd portátil e coloquei um desenho bem calmante para eles dormirem.

Quando finalmente chegamos na praia tive mais más notícias, pois Miss Stevenson, minha sogra, também estava lá. Ideias perturbadoras passaram pela minha cabeça quando, após nos acomodarmos na casa alugada, ela disse;

_Que bom ver meus netinhos, mas bem que o imprestável podia ter ficado em casa.

"Ah Miss Stevenson, eu tenho planos para você. Tome cuidado sua cobra velha, pois muitos 'acidentes' podem acontecer no mar", pensei. Porém, o que eu fiz com minha sogra na praia fica para um futuro post, namastê.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Papai, o que é preconceito?

Existiram momentos na vida em que fiquei totalmente sem palavras, a maior parte destas ocasiões ocorreram por culpa dos meus filhos. Deixem-me explicar melhor, é que em uma determinada idade, as crianças costumam perguntar sobre tudo, TUDO mesmo! E vocês bem sabem, não há resposta para tudo.

A difícil missão de explicar a
homossexualidade para crianças
Como foi dito no último post, George chegou para passar um final de semana com a gente, porém travestido como Georgette. Eu sabia que haveriam muitas perguntas quando meus filhos vissem George, então fiz todo o percurso até minha casa pensando em como iria explicar para eles que aquele homem era, na verdade, um homossexual.

Para vocês terem uma ideia melhor do que estou tentando dizer, aqui vão alguns exemplos de repostas que dei para os meus filhos em ocasiões embaraçosas:

_Papai, por quê existem pessoas deficientes?

_Hã.......

_Papai, por quê as pessoas odeiam os nordestinos?

_É.....

_Papai, por quê existe gente de cor diferente?

_Então....

_Papai, o que é física quântica?

_O quê???

No final das contas, percebi que minhas crianças tinham muitas dúvidas sobre o que era preconceito:
Mary Kate e seu
namoradinho da escola

_Bem meus filhos, às vezes as pessoas não aceitam muito bem que existam diferenças entre os seres humanos. Porém, ser diferente é muito legal, imaginem se todo mundo fosse igual? Não ia ter graça nenhuma.

_É verdade papai, tanto que meu namoradinho da escola tem cor de chocolate. - disse Mary Kate.

_Muito bem filhinha... peraí, namoradinho? Que história é essa?

_É papai, a gente sai de mão dada na rua e toma sorvete junto, já estamos namorando. Pelo menos foi o que a mamãe disse...

_Mas Mary Kate, você tem só seis anos, é muito novinha pra ter namorado.

_Mas papai, eu tenho 9 anos, já sou uma mocinha, tá? Além disso, a mamãe disse que deixa.

Acho melhor terminar esta história outro dia, que agora preciso ter uma conversa séria com a Kitsune. A Mary Kate saindo com namoradinho por aí, onde já se viu...?
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Nota do autor:

O casalmuderrrno repudia qualquer tipo de preconceito, seja ele racial, étnico, religioso ou sexual. Sempre que possível, denunciamos usuários das redes sociais que divulgam argumentos racistas ou discriminatórios.

Entendemos que o preconceito nasce no seio do lar, pois uma família estruturada na compreensão das diferenças dificilmente criará crianças preconceituosas. Por isso, aconselhamos que todos os pais conversem com seus filhos sobre o assunto, que os façam entender que somos todos iguais e que a discriminação é um crime que pode causar muita dor e tristeza.

O tema é delicado e merece a atenção de familiares e pedagogos, somente assim, com a ajuda de todos, poderemos pensar em uma sociedade mais justa e igualitária.

@casalmuderrrno - Chester e Kitsune Chenson

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Meu primo George

Sabem, eu não costumo ter ciúmes da Kitsune, mas de vez em quando não dá, eu viro o bicho. Uma dessas vezes foi quando um primo dela, o George, veio nos visitar. Esse George tem história, pois antes de começar a me namorar, Kitsune costumava se engraçar com ele nas praias de San Francisco.

_Ele é modelo da Louis Vuitton, malha cinco vezes por semana e é um deus grego. - Disse-me ela uma vez, me deixando p. da vida.


George, o primo "deus
grego"de Kitsune
Às vésperas do final de semana em que ele ia chegar, eu já estava uma pilha de nervos, só pensando naquele desgraçado que ia ficar três dias flertando com minha esposa. Kitsune tentou me convencer de que eu estava colocando minhocas na cabeça, que se algo rolou entre eles era coisa do passado e que eu deveria esquecer o assunto. Mas eu sei como um homem pensa, o tal "deus grego" ia esperar apenas uma brecha para relembrar os bons momentos com ela, se aproveitar de uma fraqueza emocional e dar o bote final, levando minha mulher para um pardieiro, tal qual fez o primo Basílio no livro do Eça de Queirós.

Enfim chegou a sexta-feira, e com ela a possível ruptura de nossa bela família.

_Que drama. - diria Kitsune, se pudesse ouvir meus pensamentos naquele momento.

Ao chegarmos na rodoviária, ela desceu para buscá-lo, enquanto eu fiquei esperando no carro, apenas imaginando o abraço caloroso que dariam ao se verem após tanto tempo distantes. Alguns minutos depois Kitsune retornou, conversando alegremente com uma amiga. Ao se aproximarem, saí do carro e segui na direção delas:

Georgette, na última parada gay
de San Francisco.
_Ei Kitsune, onde está o seu primo? - perguntei, na esperança de que ele não vinha mais.

_Então Chester, após tanto tempo sem nos vermos, parece que muita coisa mudou e... esse é o meu primo George. - disse apontando para a moça que a acompanhava.

_George não, Georgette, muito prazer. A Kitsune me falou muito bem de você, é bom mesmo que você trate minha prima direitinho, ouviu?

_Hãããã.... muito prazer, Georg.... ette... - Eu queria ter visto a cara que fiz naquela hora, devo ter ficado mais pálido que o Gasparzinho.

_Chester, volta pra realidade meu querido, vamos que eu estou morta de cansaço. - apressou Georgettte.

Enquanto voltávamos para casa, meu ciúmes deu lugar para a apreensão, e fiquei pensando como as crianças iriam reagir ao descobrir que o tio delas era, na verdade, uma drag queen. Mas esta história fica para um próximo post, namastê.